Minha história de amor com o autismo

Hoje vou contar um pouco da minha história. Uma história de amor, amor com o autismo, ou melhor, com os autistas.

Em meados de 2015, eu estava com um emprego estável, trabalhava de segunda a sexta, não dava mais plantões, era chefe do lactário do maior hospital de cardiologia da América Latina, tinha em minha responsabilidade além do lactário, a nutrição das 5 UTIs do hospital, a UTI pediátrica e a pediatria. Certo dia, comecei a atender em horário alternado ao horário do hospital em uma clínica de neuropediatria que também recebia outras especialidades. Era cômodo para mim, era perto da minha casa, conhecia bem os donos da clínica, enfim, comecei a atender.

Inicialmente estava atendendo doenças crônicas, na maioria das vezes adultos, vez ou outra crianças, até que um certo dia, entrou pela sala do consultório um casal e uma criança, um menino de 7 anos com diagnóstico de autismo.

Quando saímos da faculdade acreditamos que podemos atender de tudo, e de certa forma podemos, mas não devemos. Pensei que poderia dar seguimento aquele paciente e enfim iniciei a consulta.

Quase enlouqueci, a criança não comia nada, eu particularmente nunca tinha estudado obre autismo, nunca tive nem se quer um membro da família autista, não sabia nada, a mãe sabia bem mais que eu.

Atendi a família como se eu soubesse o que estava fazendo, mas na verdade não via a hora de desocuparem o consultório para eu dar uma pesquisada.

Ao término da consulta, decidi entrar na internet e procurar algo sobre a nutrição no autismo. Encontrei poucas coisas, em sua maioria blogs de mães e informações soltas sobre dieta sem glúten e sem caseína. Na minha ignorância, decidi tirar o glúten e a caseína da alimentação da criança. Mandei um plano alimentar perfeito e isento de glúten e caseína. Pronto, minha parte estava feita. Mero engano.

Pedi retorno para 30 dias, a mãe voltou com a criança depois de mais de dois meses, sim, mais de dois meses. O motivo era que estavam procurando um nutricionista especialista em autismo. Não encontraram e tiveram que voltar na consulta. Porque estavam procurando outro nutricionista? Porque estava na cara que eu não sabia o que estava fazendo. A criança era extremamente seletiva, tinha uma alimentação pobre e restrita e eu ainda fui la e tirei o que ela comia, obvio que a criança ficou emagrecida.

Meu Deus, desnutri a criança, o estado nutricional piorou. Não sabia nem por onde começar. Decidi encaminha-lo para outro nutricionista, um que fosse especialista em autismo, mas assim como a mãe eu não encontrei. Como se não bastasse, começou a pipocar de autista para eu atender. Eu tinha que fazer alguma coisa!

Já que eu não encontrava alguém para encaminhar, fui estudar, no pouco que sabia vi que grande parte dos autistas tinham muitos problemas gastrointestinais. Eu só sabia atender cardiologia e doenças crônicas, então abracei a causa e fui estudar.

Não existia até então uma especialização específica em nutrição no autismo, então decidi fazer a Especialização em Gastroenterologia Pediátrica da UNIFESP, fui e com a graça de Deus passei no processo seletivo. Como era de segunda a sexta em período integral, tive que largar o emprego.

Disseram que eu era louca, doente, sem a mínima noção pois larguei o emprego em plena crise, mas eu fui, deixei zona de conforto, eu queria mais, eu queria abraçar a causa e abracei.

Em pouco mais de um ano, terminei a especialização, não me arrependo de absolutamente NADA, faria tudo de novo.

Com o tempo graças as minhas pesquisas, a Especialização que me deu um norte para muita coisa, cursos que sai por ai fazendo e também graças a pessoas maravilhosas que conheci, amigas nutris que me ajudaram e me ajudam até hoje, ganhei experiencia na caminhada da nutrição no autismo.

Hoje posso dizer que sou nutricionista de crianças, entre elas minhas crianças autistas, com o autismo veio as doenças neuronais como epilepsia, o TDAH, Síndrome de Down, gastroenterologia, seletividade alimentar, alergias e intolerâncias, continuei com a cardiologia e doenças crônica e não parei de estudar. Estou prestes a concluir a Especialização em Nutrição com foco em Autismo, TDAH e Síndrome de Down. E o amor pelos autistas só aumenta e preenche todo meu coração. Só tenho a agradecer a esses anjos que são luzes na minha vida.

Por fim, essa é resumidamente a minha história de amor com o mundo do autismo.

Com amor, Alice Coca.